O mercado mundial de smartphones registou um crescimento modesto no primeiro trimestre do ano, de apenas 1,5%, com 304,9 milhões de unidades vendidas. Esta recuperação ocorre num contexto de elevada tensão geopolítica e incerteza comercial entre os EUA e a China, que continua a lançar dúvidas sobre a sustentabilidade deste crescimento. Os dados preliminares são da IDC.
O desempenho entre janeiro março foi impulsionado por uma aceleração estratégica da produção e expedição de dispositivos por parte dos fabricantes, numa tentativa de antecipar possíveis aumentos de tarifas de importação nos EUA. A decisão recente da administração norte-americana de suspender temporariamente os tarifários sobre smartphones importados da China trouxe algum alívio, mas a dependência da cadeia de fornecimento chinesa mantém-se como um ponto crítico.
"As marcas estão a aproveitar esta janela de isenção para reforçar o stock e enviar o máximo possível para o mercado norte-americano. Esta movimentação artificial inflacionou os números do trimestre, sem corresponder a um aumento real da procura dos consumidores", destaca Francisco Jerónimo, vice-presidente da IDC.
Nos Estados Unidos, o mercado cresceu mais de 5%, impulsionado pelo lançamento de novos modelos e pela urgência dos consumidores em comprar dispositivos antes de eventuais aumentos de preços. Já na China, o crescimento foi alimentado por subsídios estatais aplicados a smartphones até 820 dólares, política que favoreceu marcas como a Xiaomi, Vivo e OPPO. De acordo com o relatório, o programa de subsídios do governo chinês, lançado em janeiro, gerou um aumento notável nas vendas de gamas média e baixa.
Tendo em conta as vendas, a Samsung voltou à liderança do mercado, beneficiando do sucesso do Galaxy S25 e da nova série Galaxy A36/A56, com recursos de IA acessíveis. Já a Apple registou o melhor primeiro trimestre de sempre em unidades expedidas, acumulando inventário para mitigar riscos tarifários. No entanto, perdeu quota na China, onde os seus modelos Pro não se qualificaram para os subsídios.
Já a Xiaomi, Vivo e OPPO consolidaram posições no mercado chinês, apoiadas pelas políticas de incentivo ao consumo. A Vivo destacou-se, com um crescimento de 6,3% em termos homólogos, tanto na China como nos mercados internacionais, sobretudo com a série V e dispositivos de entrada de gama.
O estudo aponta ainda para perspetivas incertas para 2025. Apesar do crescimento atual, a volatilidade tarifária e a instabilidade económica global podem afetar a confiança dos consumidores e impactar negativamente o desempenho dos próximos trimestres. E se o segundo trimestre poderá beneficiar do impulso gerado pela suspensão temporária das tarifas, as marcas terão de tomar decisões críticas num cenário de planeamento cada vez mais complexo.